Esses dias reassisti 2 filmes que gosto muito: “Interestelar” e “Batman Begins” que inclusive são do mesmo diretor Cristopher Nolan.
O que esses filmes tem em comum?
O herói. Aliás, grande parte dos filmes são baseados na jornada do herói, esse é um roteiro conhecido, e adaptado de diversas formas para os filmes.
Detalhe: quando falo herói, não é simplesmente aquele mascarado e com capa. Mas uma forma arquetípica de personalidade e de história. Em resumo, é alguém que é chamado para alguma situação, e os acontecimentos levam ele a embarcar nessa jornada. Ao longo ele enfrenta conflitos, provas e tentações, é aconselhado ou mentorado e quando não tem um talento natural é treinado para passar por aquilo.
Inclusive há alguns livros sobre o porquê somos tão atraídos por essa figura, como “A jornada do Escritor” e “O herói de mil faces” e porque nos inspira mesmo enquanto crianças e como adultos.
O contexto da humanidade
O principal ponto que quero trazer, é sobre a principal habilidade do herói: a excelência.
Hoje estamos mais propensos a nos contentarmos com a média, sermos medíocres e aceitarmos isso e está tudo bem. É claro que a internet, o excesso de informação e a velocidade que as coisas mudam alterou nossas formas de vida, mas a questão é que não estávamos prontos mentalmente para isso.
Nossa evolução foi pautada sempre em sociedade, aprendemos a nos agrupar (tribo) para evoluir. Pois cada um exercia uma função necessária.
Não é atoa que “juntos somos mais fortes”, nos completamentos, somos seres da sociedade.
Só que era mais fácil para alguém ser bom em algo quando vivíamos em épocas e em comunidades menores, cada um podia ser o destaque de seu domínio. E isso trazia uma confiança e preenchia a sensação de pertencimento que nos é inerente.
Hoje em dia, por melhor que você seja, estamos tão conectados que você sempre vai encontrar alguém por aí que te fará parecer inferior.
Um personagem esquecido
E é nessa parte onde podemos nos inspirar para buscarmos nosso melhor.
O herói faz parte do nosso contexto porque ele relembra nosso potencial de grandeza, de nos superarmos, de nos adaptar. Ele aumenta nosso teto de possibilidades.
Sabemos que a perfeição não é alcançável, e é por isso que ele nos lembra de nossa história, pois ele é construído na provação e não na perfeição, ele nos devolve a crença em nós mesmos pela excelência.
Areté, o resgate da excelência
No mundo grego antigo, a educação era voltada para criar um ser virtuoso. O objetivo era enaltecer o ser humano a ser cada vez maior e superior aos outros seres.
E era por meio da busca de ser melhor em cada ato, que podíamos ter uma sociedade melhor.
Porque os indivíduos que formam a sociedade. Não existe um país corrupto com cidadãos justos. O país não é uma entidade separada. Não há um povo excelente, justo, que escolha políticos ruins. Esse é o nosso reflexo.
A vida em sociedade é uma vida de resolução múltipla de problemas. Eu resolvo um problema e você resolve outro. Se eu não sei cozinhasr há alguém que saiba. Se não sei fazer um celular, há alguém que faça e assim por diante. E quando faço a minha função com excelência, na medida do possível, todos usufruem.
São as ações individuais que formam o país em que vivemos.
A metáfora do barco
Aristóteles relata um pouco disso em uma metáfora. Quem é mais importante no navio?
Cada um exerce uma função.
- A função do cozinheiro é fundamental, se ele faz mal o trabalho dele, o comandante do navio vai se alimentar mal, e assim fará mal o trabalho dele.
- Se o marinheiro que lava o deck faz mal seu trabalho, prejudicará os outros.
Ou seja, há um ajuste de que as ações individuais se feitas com excelência cria uma harmonia.
A excelência serve como um parâmetro para buscarmos, não somos máquinas. A proposta é buscar na medida do possível e evitar o máximo possível de cair em atos que não excelentes, ou seja, é um exercício que nunca acaba.
Faça o teu, se voce é comandante de um navio, você vai procurar conduzir bem esse navio.
Existe uma analogia, que aprendi sobre esse assunto bem interessante com o professor Dennys Xavier:
“Se você é um cavaleiro, e vai pra guerra, e o cara que faz a sela do cavalo, faz mal, você se arrebenta na guerra.’’
Esse é o nosso “fit” no mundo
Temos nosso lugar no mundo e nossa função. E nesse lugar devemos buscar agir com excelência naquilo que podemos agir.
Ser bom para sua família, educar seus filhos, confratenizar com amigos.
Não importa onde estivermos depois disso, o importante é ter a serenidade de saber que nós fizemos o que fomos capazes de fazer, se conseguimos alcançar um objetivo ou não, será irrelevante diante da tranquilidade de espírito de ter oferecido seu melhor, para si que consequentemente contribuiu para os outros.
A trivialidade da excelência
Não ouça os ruídos externos
Quando você busca agir melhor, você pode começar a mudar seu ambiente. Alguns podem se incomodar e é normal.
“Quando você ousa aspirar mais alto, você revela a inedequação do presente, você incomoda os outros no fundo de suas almas, você os lembra que eles pararam de se importar, que desistiram de carregar o mundo nos ombros, onde ele deve estar”
Não se acomode
A partir do momento que você estabelece um grau de autoconfiança em uma área, a sensação é tão boa que você quer permanecer nela.
O problema disso é se você só fica em lugares que sente confiança, a sua própria confiança nunca vai se expandir para além disso. E você volta a se conformar e a ficar complacente com suas atitudes.
Fugindo da zona de conforto
Trago agora uma reflexão sobre a verdadeira realidade das coisas, pelo professor Paulo Henrique Teston:
“O mundo é uma causa dos processos que menos parecem importar.
O universo como um todo não é dos grandes acontecimentos. Ele é resultado muitas vezes, daquilo que negligenciamos. Assim como o bater de asas da borboleta pode gerar um tsunami, um sorriso ou o modo como você encara um problema, pode mudar drasticamente seu destino.
Nós não enxergamos a vida como ela é, enxergamos a vida como nós somos.
A vida não se trata de conhecer novas paisagens, mas de ter novos olhos. Olhos atentos com curiosidade diante das experiências que a vida inevitavelmente te proporciona.
Por isso o sentido das coisas para um ser humano, pode ter o sentido das coisas para a natureza, visto que somos parte dela: colocamos tudo que somos em cada momento que vivemos?
Essa é a única questão possível
Depois podemos decidir se fomos feliz ou tivemos sucesso: e até que sentido isso tem.
Mas só poderemos perguntar isso, depois que vivermos o sentido das coisas colocando tudo o que podemos ser em cada fazer, estar, viver e amar.
Cuidar cada vez mais daquilo que menos parece importar. O modo como olhamos, interagimos, mastigamos, nos exercitamos, interagimos, o cuidado em repassar a informação
Pois a mediocridade nos faz enxergar apenas os defeitos. Mas alguém medíocre encontrará falhas até no Paraíso, carregamos do mundo o que somos.
A reclamação é um lugar prazeroso, porque aí você não precisa se mover
Assim como você não vai polir uma joia sem atrito, voce não vai forjar um homem sem um desafio
Mundos construídos de concreto são seguros e confortáveis, mas não é por acaso que neles há menos flores.”
O melhor na medida do possível
O ser humano não nasceu para estabilidade, esse é um dos princípios da natureza. Fases de desenvolvimento.
O normal da natureza é estar sempre em movimento.
Quando você acha que domina algo, que tomou posse de algo, como conhecimento, amor, você deixa ele pra lá. A condição humana é estar sempre em falta com relação aquilo que ele deve encontrar. O amante está sempre em busca da coisa amada. Você só volta para aquilo quando percebe que “está te fazendo falta”.
Reconhecer a ausência é onde se encontra a sabedoria pela busca, é onde se encontra a busca por ser melhor. Porque esta nunca acaba.
Na premiação do oscar em 2014, Matthew Mcconaughey fez uma belo discurso, que mostra um pouco dessa ideia:
“Quando eu tinha 15 anos, uma pessoa muito importante pra mim que veio até mim e perguntou:
- Quem é seu heroi?
- E eu disse “não sei, preciso pensar sobre isso, me dê algumas semanas.
Voltei algumas semanas depois e essa pessoa apareceu e perguntou:
- Quem é seu heroi?
- Eu disse: eu pensei sobre isso, e sabe quem é? Eu em 10 anos.
- Quando fiz 25, 10 anos depois, essa mesma pessoa veio até mim e disse:
- Então você é seu heroi agora?
- E eu “nem perto disso, não”
- Ela disse, Porquê?
- E eu respondi, porque meu herói sou eu aos 35.
Então todo dia, toda semana, todo mês e todo ano da minha vida, meu heroi é sempre 10 anos a frente.
Nunca serei meu herói. Nunca vou alcançar isso. Eu sei que não vou, e está tudo bem, porque isso me mantém como alguém que continua buscando.”
E esse é o ponto, dia a dia você constrói e dá seu melhor. Você escolhe o caminho do bem, do justo, e busca ser o melhor que pode hoje
Mas e amanhã?
Você deve escolher de novo, e no dia seguinte, e no outro e assim por diante, até que isso se torne parte da sua natureza. Se não se sente assim, tem um ditado em inglês que pode te ajudar: “fake until you make it”, ou seja, finja até que você consiga, sinta isso.
Esse é o próprio exercício da filosofia é um exercicio de aperfeiçoamento, de busca e não de conclusão.
Seja excelente no que você faz, se encontre naquilo que você faz. Busque ser nobre, busque agir com areté (excelência).