“Somos uma geração sem peso ou lugar na história. Sem propósito ou lugar. Não tivemos uma guerra ou uma grande depressão econômica. Nossa guerra é espiritual. Nossa grande depressão são nossas vidas”
Essa frase é uma frase icônica do filme “Clube da luta”, que é um filme que questiona o status quo do consumismo e da ideia de estar sendo alienado pelo sistema.
Quantos de nós já nos sentimos perdidos e a deriva? Sem propósito?
É o que leva pensar: isso é um problema fundamental humano ou geracional?
A evolução humana
Nós evoluímos através da união, da participação de uma tribo, uma manada. Foi só assim que conseguimos prosperar.
Desde que nascemos estamos em contato com o outro.
A junção em sociedade não é porque nós nos amamos, mas porque resolvemos problemas múltiplos um do outro. Há quem saiba fazer um sapato, há quem saiba cozinhar, há quem saiba negociar melhor, etc…
E fomos seguindo esse processo, aperfeiçoando esse sistema social. É inerente esse comportamento de pertencer e seguir o grupo.
Existimos em um contexto social, e não como mentes puramente individuais.
Por isso ainda temos comportamento instintivo de seguir o grupo.
Redes sociais
Instagram, Tik Tok, Whatsapp, Twitter, se tornaram nossa nova forma de interagir.
O problema?
Elas funcionam por algoritmos que tendem a te colocar com alguém do seu interesse.
Essa aproximação dos pares, gera conflitos de grupos e uma separação dos seres humanos, ou seja, o mesmo mecanismo que nos faz sobreviver, crescer, e prosperar (união, cooperação), tem nos tornado cada vez mais individuais.
Um dos riscos é que isso nos torna cada vez mais aptos a evitar conflitos, porque agora mais que nunca podemos procurar só pessoas e assuntos que gostamos e a própria rede vai te induzir a isso.
Precisamos de conflitos e ter acesso a diferentes ideias na nossa vida para podermos entender o que faz sentido.
Entendermos se nossa ideia é boa ou ruim. Quando você se apega a algo, você reduz a realidade a aqueles poucos princípios, você se torna o próprio agente do caos: “elevar o que se sabe ao status de absoluto”
Em um primeiro momento pode parecer bom evitar conflitos e ficar só com aquilo que te agrada, afinal nosso cérebro prefere economizar energia. Isso cria um ciclo de feedback positivo, você entende que aquilo foi bom, e começa a fazer isso sempre.
Resultado?
Você cria menos repertórios comportamentais, você experimenta uma só perspectiva, por falta de conhecimento de verdade, você se torna mais intolerante, mais incompleto.
A falta de conflito nos deixa fracos, nos impede de evoluir.
É no desafio que você é forjado, a frustração molda caráter e estamos cada vez mais frágeis.
“A falta de luta enfraquece a alma, só o movimento e a coragem nas suas ações, faz com que o caminho se manifeste.”
Uma sociedade de aparências
A grande verdade é que esse novo mundo “social” tem criado diversas máscaras.
Inclusive li uma ótima analogia sobre isso que diz assim: “usar o nome perfil em rede social é por definição, o mais adequado possível, porque isso implica que tem um outro lado, um escondido do que estamos vendo”
E o que isso cria?
Uma cultura de performance, de aparência.
As pessoas investem uma enorme quantidade de energia para transformar-se em vitrines, mostrar uma ilusão de “plenitude” que não existe, uma alienação de perfeição.
E não basta buscar só para ela, ela quer que todos saibam e busquem o mesmo.
Não queremos mais enriquecer o mundo, apenas a buscar o prazer e as aparências.
Comparação
A questão é que um dos mecanismos mais comuns que temos é a comparação.
Porque precisamos de uma referência para nos mover em direção a algo, para saber se aquilo está ruim, bom, para determinar se é certo ou errado. Para moldarmos nossa identidade em si, precisamos ter uma referência.
Só que antes, nossa comparação era limitada ao nosso meio, aquela pequena realidade ao redor.
Você não precisava ter muito controle, ou tantos filtros para o que você via.
Hoje a possibilidade de comparação com qualquer pessoa do mundo é ilimitada em uma questão de segundos. E além do mais, os discursos não consideram a condição humana, de sermos falhos ou imperfeitos, essa parte é tirada, pois o foco é criar “performance”.
A relação com os objetos e coisas materiais se tornou tão importante quanto as relações com as pessoas (é quase um crachá que identifica “vencedores”)
Isso faz perdemos a conexão com os nossos próprios valores em prol da “performance”.
O incentivo a performance e o excesso de informação
Vivemos mergulhados nesse oceano de informações, de notícias e de performances.
E a questão é que mentalmente não nos preparamos para isso, seguimos sem ter o discernimento pleno de que aquelas informações podem ser mentirosas, deturpadas ou incompletas para usarmos como nossa referência
Esse excesso de estímulos é o que nos torna desorganizados e pouco disciplinados.
A parte frontal do cérebro – parte racional, executiva- sobrecarregada de informações envia “impulsos de agonia” para a parte mais primitiva, que quando ativada, reduzem a função nessas regiões frontais.
Resultado → pessoas mais ansiosas e menos autocríticas – nos afastamos de nós mesmos.
Tudo isso é usado em nome de uma vida aparentemente livre, plena e sempre feliz.
Bullshit.
A vida não funciona assim.
Além disso, a internet nos incetiva a adequar nossas vidas a um certo modo de viver, cujo valor é ser admirado.
Mas isso não é exclusivo do nosso mundo hoje, todas as sociedades viveram isso. Lembra que falamos sobre grupos, que é inerente a necessidade de pertencer?
Pois é, só que a internet massificou esse processo, tornou ele mais intenso como nunca foi antes na história.
O sociólogo Zygmund bauman, representou isso brilhantemente em uma fala sua “vivemos uma sociedade de consumo onde a própria vida é o produto, cujo o marketing envolve construir uma embalagem que agrade o maior número de pessoas”
Tá, mas e como podemos buscar sair desse looping?
Calma, vamos chegar lá. Primeiro precisamos entender que ter consciência do problema é o primeiro passo e um dos mais importantes, você não pode mudar algo cuja existência ignora ou não consegue descrever.
É assim que entramos no ponto chave.
A real dor é causada quando essa cultura de imediatismo, de aparência, se torna uma regra existencial.
Quando nos afastamos de nós mesmos, ficamos em busca de agradar os outros, de ser alguém que não somos para agradar alguém que muitas vezes nem conhecemos, isso nos leva a um vazio tão grande em busca de uma perfeição e compulsão por agradar que nunca vai ser realizada, porque isso é uma ilusão.
Afastar-se de si mesmo é o pior mal que pode fazer a ti. É isso que te tornará escravo de suas vontades.
Não delegue o que pertence a você: sua identidade
O grande risco do nosso momento atual é tomar a aparência como verdade, aquilo que se apresenta como realidade.
Platão nos diz para sair das verdades aparentes, em busca de algo racionalmente consistente.
Os discursos de um momento pode mudar a qualquer instante, por isso a sociedade é insegura.
A coisa em que você acredita que ela seja, e a coisa como ela é de fato faz uma grande diferença.
E é onde tem uma palavrinha grega que define bem essa busca por uma conhecimento seguro, uma verdade.
Aletheia (verdade em grego) → significa tirar o véu. Olhar para a coisa como ela é, e não como eu gostaria que fosse.
E como fazer isso? Se é difícil lidar com nossos desejos e vontades do dia a dia?
Bom, existem algumas formas, mas todas passam pela educação.
Mas uma educação voltada para si mesmo, da verdadeira origem, que é Eduzir, ou seja, tirar de dentro aquilo que é latente.
Uma educação moral – que explore virtudes, busca de conhecimento do ser humano e da natureza.
Nenhuma força é mais importante do que aquela formativa dos individuos.
Dessa forma, podemos desenvolver o potencial humano. Quanto mais nos conhecemos, mais liberdade temos, mais capacidade decisória nós dispomos, mais estrutura e ordem mental temos para filtrar aquilo que não serve para nós ou nos leva a hábitos ruins.
Por isso essa mudança, começa em você mesmo. Cada um se tornando mais ativo e consciente.
E cidadãos conscientes são formados pela educação.
Identidade
Não há ferramenta no mundo que possa guiar um homem que não sabe seus valores ou para onde quer ir.
A falta de princípios, de sentido e direção, causa confusão, angústia e te leva a buscar fora o que deveria buscar dentro.
Olha o tanto de procedimentos estéticos em excesso, um atrás do outro, uma insaciável fome da possibilidade da perfeição que nunca será saciada. Nunca preencherá esse vazio, porque esse vazio não é sobre o que está fora, é um vazio de si mesmo, de sua essência.
Você não pode fugir de si mesmo, pode ignorar, mas isso não faz com que deixe de existir.
Não podemos inventar nossos próprios valores, porque não podemos meramente impor no que acreditamos a nossas almas. É nosso dever fazer entender nossa natureza.
Nossa realização está dentro, na busca daquilo que te importa, que te constrói e faz ser quem você é.
Temos diversas identidades nos formando e dizendo como deveríamos ser, quanado não temos essa base, deixamos que os outros construam ou pegamos a que achamos mais legal.
Seu DNA é único, nunca existiu outro igual na face da terra. A possibilidade de pensar sobre nós mesmos, de formular sua identidade, de ter consciência de si, é condição para a nossa liberdade.
Atenção
Sem dúvida, um dos principais ativos do mundo é a atenção.
Ela é a premissa do marketing, das vendas, das conversas do dia a dia.
Se ela é um ativo tão importante, o que fazemos com a nossa merece muito foco.
Aprender a dar atenção no lugar certo que isso vai te fazer ir para o próximo nível.
Você é resultado final das equações da atenção que está dando por aí, se acompanhar uma pessoa na internet te faz se sentir mal, cair em comparação, já passou da hora de não consumir mais aquilo.
E não basta o sujeito viver o próprio prazer ele quer mostrar para os outros. Ele quer que o outro veja o prazer dele.
Autocontrole, está mais ligado a conhecer os estímulos que te provocam gatilhos do que se expor a situações estressantes.
A tecnologia e a internet é incrível, mas ela depende da sua conduta.
Esqueça a performance, foque em comprometer-se a ser melhor
Uma ideia errada corrompe gerações.
Estamos criando uma geração que se contenta com a média, que evita frustrações, procura apenas o prazer.
A verdadeira liberdade está em não ser determinado pelas suas vontades, está no sacrifício.
Frustar-se, errar, levantar são coisas que moldam caráter. É onde amadurecemos nossas opiniões e fortalecemos nossos hábitos. Fugir disso nos torna mais fracos, intolerantes as intempéries inevitáveis da vida.
Sempre que perceber que você vai ficar constrangido, quando você não souber você verbaliza que não sabe mas vai tentar o melhor de si (você entra no jogo tomando controle da situação e se esforçando).
Se permita errar, se permita ter conflitos, mas sempre se comprometa com seu melhor e com seus valores.
Rompa com essa ideia de perfeição, somos humanos e não máquinas. Busque pela excelência, fazer o melhor na medida do possível.
Vergonha é viver de aparências, tentando mostrar aos outros aquilo que você não é.
Busque o que é signficativo, volte a definir seus valores, o que realmente importa e comece a reduzir os excessos que não fazem parte da sua vida.
Meditação da Semana
“A melhor maneira evitar que um prisioneiro escape, é fazendo com que ele nunca saiba que está em uma prisão.”
“As piores prisões são as que te fazem pensar que a porta está aberta”