Dentre um mundo de possibilidades que temos, acredito que a habilidade de aprender, é umas das principais..
A vida é uma grande prova que nos coloca em situações de aprender o tempo inteiro, mas ninguém aprende por osmose, de forma passiva, aprendemos quando estamos concientes para isso, é uma questão de postura diante das circunstâncias.
Já que vamos falar sobre aprendizado, começo te introduzindo uma nova palavra que serve de inspiração para o conteúdo que vamos falar por aqui: Heutagogia.
É uma palavra que vem do grego, heutos (auto) e agogus (guiar), ou seja, um processo de aprendizado autoguiado, onde você orienta seu processo de aprendizado.
É a maneira onde você busca aprender por vontade própria, buscando ajuda quando necessário, porém você aprende de uma forma mais ativa em vez de receptiva (que estamos tão acostumados…)
Voltando no tempo
Você se lembra se alguém te ensinou a aprender?
As formas como nós seres humanos aprendemos em geral?
Infelizmente, não nos é ensinado essa habilidade que vamos usar o tempo inteiro na vida, que é aprender a aprender.
Nossa educação, ou melhor, formação escolar está preocupada se você vai vai conseguir fazer uma prova. E em grande parte, a habilidade que você precisa desenvolver, não é uma habilidade crítica e sim maneiras eficientes de decorar algum conteúdo e assunto.
É uma maneira tecnicista, onde o foco é passar conteúdos pontuais que não tem uma preocupação com contexto, além de ser uma forma passiva de “ensino”. Onde o professor deposita o conhecimento ali, e você “recebe”.
O problema é que chega na vida adulta, e esse comportamento fica arraigado lá no fundo e perdemos diversas oportunidades porque deixamos de continuar nos aprimorando.
Acostumamos a achar que estudar, aprender, está alinhado a decorar e não em buscar, testar e praticar.
Crenças e mais crenças
Um grande sofisma educacional é “ou você nasce com um talento específico ou você nunca será bom naquilo”. Se nasce ou não é uma discussão inútil, o que importa é que podemos nos tornar bons se realmente dedicarmos a aprender algo.
Habilidade se constrói e você se torna bom praticando e se aprimorando. Isso não significa que você será um Einstein, mas que pode se tornar melhor na medida do possível se colocar esforço e foco em aprender.
Podemos aprender muito com quem já esteve onde queremos chegar ou com quem veio antes.
Por exemplo: Você não estuda o passado, para viver nele, mas sim para aprender com ele. Sua idade não reflete necessariamente a sua idade mental. A história nos permite aprender com quem passou anos aperfeiçoando conhecimento.
Podemos aprender com Sócrates, Platão, Aristóteles, Newton, Confúcio, Freud, Seus pais, Seus avós. Um pouco com cada um, que construiu anos de vivências, aprendizados e conclusões.
Cada um vê o mundo pela forma como o experimenta.
O próprio Newton falava: “Se enxerguei mais longe foi por estar em ombros de gigantes”
O maior professor: o erro
Outro hábito que cultivamos da época de escola, é a má relação com o erro. A gente entende que errar é ruim, é uma grande frustração, simplesmente pela maneira como é colocado isso para nós.
Atrelamos o erro a nossa identidade, e não a um comportamento isolado que servirá como aprendizado.
Para ilustrar bem isso, existe um estudo da Carol Dweck, onde 2 grupos de adolescentes foram submetidos a uma prova escolar:
- Grupo 01: seria elogiado pela nota (parabéns pela nota)
- Grupo 02: seria elogiado pelo esforço (parabéns por ter estudado e se esforçado)
Conclusão:
O grupo 2 (do esforço) ao tirar nota baixa, tendia a continuar estudando e não se frustavam tanto.
O grupo 1 ficava muito mal ao tirar nota baixa, pois o “ser bom” estava condicionado a nota e no grupo 2 o “ser bom” era estudar
Aqui a gente percebe que a abordagem, o “mindset” perante as situações é fundamental para nosso progresso. As mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas, tem sentimentos e comportamentos diferentes diante de um resultado ruim pelo significado que dá a ele.
E esse é o ponto, o erro não é seu inimigo. Ele é seu professor.
Quando ficamos batendo demais no erro, nosso cérebro fica covarde, com medo de ousar, de errar. Lá no fundo todos nós queremos ser reconhecidos, amados e pertencentes e é natural, mas quando a gente esquece disso é onde mora o problema.
Quando você quer ser reconhecido e amado o tempo todo, fracassar revela uma fragilidade, te mostra que você talvez não foi suficiente em uma situação e isso gera um medo de não ser aceito.
Mas olha mais um spoiler da vida: todo mundo erra.
E é nele onde podemos nos desenvolver com a conduta correta, não é sobre ficar errando, é entender o que deu errado rapidamente para mudar a rota. É entender que não dominamos aquilo ainda para que possamos ir buscar a maneira correta de fazer.
“Um homem é grandioso não porque ele nunca falhou, um homem é grande porque a falha não parou ele.”
A maioria das dúvidas sobre nós mesmos, estão ligadas ao medo de errar e fracassar.
Sempre que se pegar pensando com medo de errar, de não ser bom o bastante ainda, lembre-se que habilidade se constrói. O que você precisa fazer agora para se preparar melhor, ou aprender o que se propôs?
Quando você define que não sabe realizar AINDA, isso abre a disposição para aprender.
A oportunidade de uma era
Com certeza você já viu a oportunidade que temos em nossas mãos.
Há 50 anos atrás você tinha que ir buscar em um dicionário, uma biblioteca. Hoje você pode ler um livro online no mesmo instante ou se não for adepto a ler em telas como eu, pode pedir um livro físico que chega na sua casa em 1-2 dias por preços extremamente acessíveis.
Platão por outro lado gastou boa parte de sua riqueza para adquirir manuscritos de Pitágoras.
Muitas coisas hoje temos em nossas mãos sem sair de casa, e o melhor de forma gratuita.
Se temos tudo tão fácil, porque não aproveitamos?
Bom, pode ser uma série de fatores:
Ficamos mais acomodados por ter tudo muito fácil…
Ler um livro ou buscar aprendizado requer esforço, e isso é pouco dopaminérgico. E como a quantidade de estímulos que temos hoje é altíssima, fica difícil competir.
Você simplesmente não consegue forçar seu corpo obedecer, parece que falta energia.
Temos também o paradoxo da escolha:
Apesar da tecnologia nos facilitar muito o acesso, ela nos trouxe possibilidades demais, e quando a gente não desenvolve uma capacidade de “filtrar” ficamos à mercê de tudo, e não há nada mais caótico e paralisador do que possibilidades ilimitadas.
Saber filtrar é fundamental para quem quer continuar crescendo. E como filtrar?
Primeiro, para entender de uma forma mais didática, podemos ter aprendizados de 2 formas:
→ Profissionais e os de vida em geral.
Os 2 passam por definir suas prioridades da forma mais básica possível. O simples é quase sempre a melhor forma de resolver uma coisa, muitas vezes ficamos tão imersos nesse mundo de informação instantânea que esquecemos do poder do simples.
A melhor maneira de saber o que filtrar é montando uma rota que orienta sua vida, definindo seus valores e objetivos.
Quando você define um objetivo, você automaticamente cria um manual para guiar suas escolhas, você reduz as possibilidades, e começa a saber para onde não quer ir e assim definir seu norte.
Dessa forma, você pode começar a cortar ou reduzir aquilo que te afasta desse caminho.
Conhecimento não é aprendizado
Conhecimento e aprendizado são processos que nunca acabam, estamos o tempo todo nos colocando em situações e essas também vindo até nós, sempre podemos tirar algo de bom delas, afinal a vida é uma prova.
Se a vida é uma prova, e entendemos que a forma passiva que é nos ensinada não é a melhor forma, como devemos aprender?
Praticando, errando e aprendendo..
Aprende-se a viver vivendo e não teorizando, esse é um dos grandes males de hoje em dia. As coisas que acontecem na sua vida não significam nada se você não refletir e aprender com elas.
Da mesma forma os livros que você lê, podcast que você escuta são irrelevantes se você não aplicar eles na sua vida, é apenas tempo perdido, onde você ficou ouvindo frases que amaciavam seu ego e vai repeti-las sem sequer elaborar um processo crítico e experimental.
Conhecimento tem que ser incorporado na sua vida. Só com a prática você sabe se aquilo faz diferença real ou é apenas uma ilusão.
Como dizia Sócrates: “Só é util o conhecimento que nos torna melhores.”
A proposta que se perdeu com o tempo
Essa inclusive é a proposta da filosofia, que infelizmente tem se perdido. Nada adianta conhecimento se ele não implica uma mudança real na sua maneira de viver.
Aquilo que só está na sua mente é apenas fantasia, o que de fato muda sua realidade é a ação, sem isso, tudo aquilo não tem significado, é vazio.
Muitas vezes ficamos esperando um DAI – um departamento de aprovação de ideias – para ir lá e fazer, mas isso não existe, a gente só aprende na prática, e com os erros que ela traz.
Por exemplo, você pode ler todos os livros de formação de hábito possíveis, mas se você não for lá e repetir, você não vai criar o hábito.
Michael Jordan pode te falar todas as técnicas para fazer um arremesso de três, mas se você não for lá e praticar, errar diversas vezes, você nunca vai aprender.
Na teoria não existe barreira e nuances, na prática são muitos detalhes que são imperceptíveis até você por à prova.
Por isso a forma mais eficaz de aprender sempre será praticando e não planejando. Você tem que repetir diversas vezes.
Um professor fixa uma matéria, porque ele deu inúmeras aulas. A primeira aula dele, não foi igual a aula 357 daquele assunto, no caminho ele aprendeu as nuances, formas de conectar com o aluno que só a realidade concreta ensina.
Você sempre começa como um aprendiz, sua primeira vez vai ser ruim, acostume com isso.
Desapego para aprender – A virtude do aprendiz
A primeira virtude de uma postura de aprendiz é a humildade.
E humildade não é se diminuir, é simplesmente reconhecer que temos defeitos e somos falhos. É entender que derivamos nossa visão pelo jeito que experienciamos o mundo, e que muitas vezes isso pode estar incorreto.
A maldição do conhecimento é que ele fecha a nossa mente para o que não sabemos.
“O que nos causa problemas não é o que não sabemos. É o que temos certeza que sabemos, e que, ao final, não é verdade.”
Esse é o pensamento filosófico, o pensamento cientista, é preferir a humildade ao orgulho, a curiosidade a conclusão.
É uma das lições mais antigas da filosofia:
Em Atenas, existia um oráculo, onde foi perguntado quem era o homem mais sábio de Atenas.
O oráculo responde – Sócrates
Este, por sua vez: Como sou o mais sábio de Atenas, se apenas sei que nada sei?
E essa é uma das maiores lições da filosofia:
“Justamente por que sabes que não sabe, reconheces tua ignorância, é que és o homem mais sábio.”
Lição de Sócrates: “Só sei que nada sei” a humildade em reconhecer a ignorância é o primeiro passo para aprender o que não sabemos ainda.
Busque conflitos
Conforme ganhamos experiência, perdemos humildade pouco a pouco. Nós nos orgulhamos do progresso e ficamos complacentes com ele. E esse é um dos piores erros que podemos cometer. Criamos uma confiança tão excessiva que perdemos a humildade que permitia exercer a dúvida.
O propósito de aprender não é confirmar nossas crenças, e sim fazê-las evoluir.
Você só consegue saber se uma ideia é boa atritando ela, ou seja, confrontando com os argumentos de outra pessoa.
Dessa forma temos facilidade em encontrar os pontos fracos, e o que precisamos repensar.
Nós aprendemos mais com pessoas que desafiam nosso raciocínio do que com as que reafirmam nossas conclusões.
Conflitos nos ajudam a refletir sobre nossos pensamentos. Ausência de conflito não é harmonia, é apatia.
O desapego
Aprender muitas vezes passa por desapegar de crenças construídas e esse é um processo extremamente doloroso. É o momento que separamos aqueles que ficam presos na zona de conforto e os que avançam.
Descontruir é o megulho no caos, é o momento que tudo aquilo que você acreditava precisa ser contestado, coisas que estavam enraizadas há anos, que te sustentaram durante uma vida e isso é assustador de ser enfrentado.
Parte do que você sabia precisa ser confrontada para uma mais completa surgir.
Só que na vida, nossos sucessos se originam de quanto somos capazes de conviver e aprender com os nossos erros e seguir em frente.
Essa postura de enfrentar o desconhecido é um pré-requisito para mudança, isso significa dar permissão ao mundo para ser como ele é, porque só fazemos as pazes com o universo quando paramos de tentar controlá-lo.
Agora, esse medo de enfrentar o incerto nos atrasa.
Nossa mente é facilmente tentada a ignorar o erro e varrer a sujeira para debaixo do tapete, principalmente porque muitas vezes associamos nossas opiniões a nossa identidade.
→ Nossa identidade tem que estar associada a valores e não a crenças.
As opniões podem se tornar tão sagradas que ficamos hostis só de pensar em estarmos errados, não precisa ir muito longe, só olharmos as idolatrias na política hoje em dia.
O orgulho gera convicção em vez de dúvida.
“A racionalidade está sujeita a pior tentação: elevar o que se sabe agora ao status de um absoluto.”
Se entramos em uma conversa em um modo “pastor”, ou um modo “advogado”, já entramos acreditando ter encontrado a verdade, ou vamos defender algo simplesmente por que isso agrada nosso grupo (pais, família e amigos).
E o antídoto para essa maldição é a filosofia, o exercício da busca contínua por aprender.
É ter esse pensamento que vai te ajudar a enfrentar o caos do desconhecido com uma postura de aprendiz. É a disposição de aprender com aquilo que você não sabe.
Foi do jeito que eu queria? Não. Então meu objetivo ou meus métodos estavam errados. Então ainda tenho alguma coisa pra aprender.
“Meu apego a ideias é provisório, não deixo que se tornem parte de minha identidade, não sinto amor incondicional por elas. Gosto de saber que estou equivocado, porque me faz entender que agora estou menos equivocado que antes” – Danny (livro – Pense de novo)
A educação
A educação vai além das informações que guardamos na mente. Ela está nos hábitos que desenvolvemos ao ler um livro, assistir uma aula ou ouvir um podcast, está em nos tornamos o melhor que podemos ser. Está nas habilidades que construímos para continuar aprendendo.
Essa é a raíz da educação, Eduzir – Tirar de dentro o potencial latente.
- Escolha a coragem em detrimento do conforto
Os melhores momentos são aqueles que você se supera, que você olha para trás e vê que você é uma pessoa melhor, mais preparada, mais consciente no presente.
E do ponto de vista da história humana, estamos no melhor momento possível para buscar ser cada vez nossa melhor versão, aprendendo de diversas formas diferentes, podemos escolher O QUE aprender e COMO aprender.
Se precisar desacelere, mas tente não buscar distrações o tempo todo. Isso te dá mais tempo para repensar suas ações e conferir sua rota.
Defina seus valores e suas metas. Desbrave o desconhecido para aprender o que ainda não sabe.
Afinal, nunca se sabe as possibilidades que te esperam com aquilo que você ainda nem sonha que precisava conhecer.
Meditação da Semana:
Presuma que a pessoa com quem está conversando possa saber algo que você não sabe.