Recentemente terminei de ler esse livro, que fala bastante sobre aprendizado. Mais especificamente uma técnica que o autor divulga de “ultra-aprendizado” ou seja, algo super intenso e focado.
Ele mostra como foi a técnica que ele utilizou para quando formou em um curso de 4 anos no MIT em apenas 1 ano. E como aprendeu 4 idiomas em 1 ano (3 meses em cada país).
Vou compartilhar aqui, uma visão mais geral sobre o livro e as reflexões que ele me levou, pois a técnica de ultra-aprendizado em si, não vai ser de utilidade para todo mundo, por isso se quiser se aprofundar nela, recomendo com certeza ler esse livro.
Aprendizado
Uma das frases mais marcantes durante a leitura foi: “Aprendizado passivo gera conhecimento. Prática direta gera habilidade.”
O que isso quer dizer exatamente?
Conhecimento sem prática na maioria das vezes vai ser inútil.
Você pode ter toda informação do mundo, a questão é que na teoria tudo funciona na prática, mas na prática é diferente. Você só sabe realmente quando enfrenta ela, porque existem nuances que não podem ser calculadas.
Você pode ler todos os best-sellers de como aprender a vender ou de como ter “a oratória perfeita”, mas a única forma de você realmente dominar tais habilidades, é praticando.
Há alguns meses queria começar a praticar minha escrita, mas para escrever não adianta você ler ou estudar todas as aulas possíveis do assunto, a única forma é fazendo o que? Escrever.
Por isso comecei esse projeto da newsletter, onde consigo trabalhar a articulação de temas que estudo junto e estruturá-los para passar a mensagem pra frente, para que de alguma maneira possa te ajudar em algum nível. E no meio disso, também estou praticando e aprendendo a escrever melhor.
A experiência no mundo real é fundamental.
Você pode ter todas histórias e estratégias, mas sem ação não vai adiantar.
Por que aprender?
Para começar, desenvolver habilidades, ser bom em algo traz uma sensação boa.
Já teve a sensação de quando você fez algo desafiador e conseguiu se superar?
Em segundo ponto, a tecnologia nos facilitou de uma forma que fica até difícil de explicar, tudo se tornou mais simples de aprender, ainda mais com o advento da IA.
Quando você aprende algo que você gosta e se propõe, por mais desafiador que seja, é muito mais fácil você se motivar, diferente de como era na escola ou na faculdade, com conteúdos e estruturas pré-prontas.
O momento
A internet mudou todo o paradigma, e não só para você, para todo mundo.
Hoje as pessoas tem um teto de habilidades muito maior que são complementares a sua principal.
As universidades hoje não garantem sucesso, este por sua vez exige uma certa gama de habilidades que não são ensinadas academicamente. Por isso, que se dispor aprender e também aprender a aprender será não só fundamental para seu próprio desenvolvimento como pessoa mas também para sua carreira, sua profissão.
O próprio mercado hoje exige mudanças rápidas, e a capacidade de se adaptar e aprender as competências que forem surgindo como necessárias para permanecer competitivos.
O dilema da tecnologia
Qual uma das maiores preocupações hoje? A tecnologia está nos ajudando ou destruindo?
Esse é um ponto muito interessante, e a resposta gira em torno do “depende”.
A conduta é fundamental.
Você pode destruir uma geração ou salvar ela, tudo vai depender do uso.
A quantidade de informações e ferramentas disponíveis é surreal. Mas não adianta ter tudo isso se não souber filtrar, colocar limites ou até mesmo ir atrás do que precisa ser feito.
Porque ao mesmo tempo que você tem acesso a coisas boas, você pode fortalecer coisas ruins, como seus vícios.
A quantidade de distração e ilusão nunca foi tão imensa quanto é hoje.
Você pode entrar no instagram, youtube, para consumir conteúdos que vão te ajudar profissionalmente ou pessoalmente ou passar o dia inteiro consumindo algo que se eu te perguntar daqui 5 minutos, você não vai nem lembrar que viu…
Entende agora? vai depender da sua postura em relação ao uso das tecnologias. Ela por si só não tem natureza de “boa” ou “má”.
Informação e conhecimento
Nos últimos anos a quantidade de conhecimento acessível para nós é surreal. Uma edição de um jornal como o New York Times contém mais informação do que uma pessoa comum poderia receber durante toda a vida na Inglaterra do século XVII.
Mesmo assim, isso não significa que uma pessoa hoje seja mais inteligente do que as pessoas eram uma geração atrás. Ter informações demais não transforma em conhecimento, muitas vezes pode até atrapalhar, porque você acaba por ter distrações e possibilidades demais.
A transformação em conhecimento passa pela prática e repetição.
Não há para onde fugir, não existe atalhos.
A aprendizagem passa sempre pela prática direta e pela repetição. É a forma que aprendemos.
Foco
Um dos maiores problemas no que se diz a aprendizagem nos dias de hoje é a questão do foco e lidar com a procrastinação. Estamos circulados de estímulos e distrações o tempo todo.
Como resolver?
Arrume seu ambiente primeiro.
Remova os possíveis estímulos, celular, televisão ligada, músicas. Deixe o que você vai precisar perto, como caderno, caneta, livros….
Separe seus blocos de tempo
Se você não separar tempo para aprender, vai ser muito mais difícil reunir a motivação para estudar.
Estudar 15 horas por dia, não é a prática mais ideal e nem realista para a maioria das pessoas.
Afinal, estudamos, trabalhamos, temos responsabilidades com nossos relacionamentos, e afazeres de casa.
Por isso, defina blocos de tempo em que vai se dedicar à aquela habilidade, adaptando para sua rotina. (lembre-se de definir data e prazo, se não vai continuar sendo uma ideia e uma otima “deixa” para procrastinar)
Ter constãncia nessa rotina vai alimentar bons hábitos, e começara a reduzir o esforço que você faz para se compremeter naquela tarefa.
Entenda você mesmo mas não seja complacente
Qual a forma que você mais prefere aprender?
Talvez não consiga se concentrar durante muito tempo em um livro (como eu) e prefira vídeos ou podcasts. Transforme o processo de modo que ele fique mais a sua maneira.
Mas lembre-se também que as vezes, o que é divertido não é muito eficiente, e o que é muito eficiente não é fácil.
Por exemplo: fazer repetições é difícil e com frequência desconfortável. Praticar aquilo em que você precisa melhorar, exige estômago. Talvez o conhecimento que você precise está em um livro e você não goste, mas é necessário.
É muito mais prazeroso ocupar o tempo se concentrando naquilo em que você gosta, não caia nessa armadilha.
Experimente e pratique
Muitas vezes você vai precisar também fazer coisas que não gosta, e isso faz parte. Por isso, não deixe de testar novas maneiras e adaptar novas formas, o que não pode deixar acontecer é o “não fazer”.
Se você se sente incapaz de se concentrar, comece assistindo 5 minutos de uma aula em vez de ela inteira.
Se não consegue ler um livro inteiro, experimente 10 páginas por dia.
Se acha difícil se sentar por 1 minuto, experimente por 30 segundos.
Você ensinou seu corpo a procurar distrações e da mesma forma que ensinou ele a se engajar toda vez nelas, pode ensinar ele a resistir. E toda vez que fizer isso, você vai estar ensinando seu corpo a reduzir os impulsos para se distrair o tempo todo. Tenha paciência e persistência, essas virtudes são fundamentais, se você não respeitá-las e continuar apostando no imediatismo, nada vai mudar.
Richard Feynman, um verdadeiro “aprendedor” e explicador
Feynman foi um físico ganhador do prêmio nobel e um cientista renomado, que ficou muito conhecido pela sua facilidade de explicar conceitos complexos de forma simples.
Quando estamos lendo algo, tendemos a achar que compreendemos aquilo, a famosa ilusão de competência.
Ele cultivava padrões muito rigorosos para o que ele considerava conhecimento.
A verdade é que quanto mais você aprende sobre um tema, mais perguntas surgem.
Feynman tinha um método simples
Eram 4 princípios:
- Anote o conceito que quer entender
- Explique a ideia como se tivesse de ensiná-la a alguém (explique o tópico em termos de fácil compreensão)
a) se for um conceito, pergunte a si mesmo como transmitiria a ideia a alguém que nunca ouviu falar sobre o assunto
b) se for um problema, explique como resolvê-lo e – isso é crucial – por que tal procedimento de resolução faz sentido para você.
Esta etapa é fundamental, pois ao explicar o tema em suas próprias palavras, você é obrigado a organizar o conhecimento de forma coerente e compreensível e assim vai perceber os pontos que não estão claros.
3. Identifique as lacunas do seu conhecimento
Se não atingir uma resposta clara volte às suas fontes até que consiga explicar o conceito completamente.
O ponto crucial aqui é que ele tenta dissipar a ilusão de profundidade. Uma vez que grande parte do que aprendemos nunca é articulada, é facil pensar que entendemos algo.
A técnica nos força a articular detalhadamente a ideia, contornando esse problema da ilusão.
Ao se desafiar a explicar os pontos cruciais de uma ideia, todas as lacunas no seu aprendizado se tornarão óbvias.
4. Revise e simplifique
Aqui você vai revisar e procurar explicar sempre com suas palavras sem usar os jargões do material que você estudou, inclua analogias e exemplos cotidianos porque isso vai ajudar bastante na compreensão.
Aprendemos e comunicamos no dia a dia, por meio de histórias, crie uma para que o conhecimento seja fluído na sua mente.
Entender algo na sua cabeça é uma coisa, passar ele pra outros é uma habilidade completamente diferente. Praticar os conceitos dessa técnica, ajuda a solidificar o conhecimento e te tornar mais articulado.
Como Feynman dizia: “Eu aprendi bastante cedo a diferença entre saber o nome de algo e saber de algo.”
Experimente
A grande verdade é que seremos eternos aprendizes durante nossa vida.
Por isso é um erro imenso afirmar que aprender significa substituir ignorância por compreensão.
O conhecimento aumenta, mas também aumenta a ignorância, uma vez que, quando se compreende melhor um tema, você também começa a descobrir diversas questões que não tem resposta..
Quando você se propõe um projeto de aprendizado e o finaliza, isso não é o mesmo de ter finalizado seu processo de aprendizado.
Acontece que antes você só via uma pequena fresta pela porta, mas quando a abriu, viu as inúmeras possibilidades que pode conhecer, muito mais que você sequer imaginava. Esse é o conhecimento de que Sócrates falava.
Quanto mais você aprende, mais vai entender que você não sabe e maior será seu desejo de aprender mais, porque percebemos que podemos ser muito mais, seus olhos agora podem ver um mundo totalmente novo que antes não era capaz.
No começo, o desafio do aprendizado é não saber o que fazer. No fim, é achar que já sabe tudo.
O aprendizado é um processo de depuração constante e acumulativo, ele também vai passar por desaprender abordagens que não funcionam mais ou não fazem sentido.
O processo educacional gera desconforto. É incômodo. Conhecimento é doloroso, porque ele nos coloca em xeque com os fundamentos de opniões mal formuladas que nós carregamos uma vida inteira.
Por isso se mantenha sempre experimentando e praticando novas coisas e técnicas. Não se apegue demais.
“Resultados? É claro, já obtive muitos resultados! Conheço milhares de coisas que não funcionam. – Thomas Edison
Meditação da Semana
“Precisamos absolutamente deixar espaço para a dúvida, ou não haverá progresso e nem aprendizado.
Não há aprendizado sem que tenhamos que fazer perguntas. E uma pergunta requer dúvida. As pessoas buscam certezas. Mas não há certeza. As pessoas ficam apavoradas – como se pode viver sem saber?
Não é nada estranho. Você só pensa que sabe, na verdade. E a maioria de suas ações são baseadas em conhecimento incompleto, você realmente não sabe do que se trata, qual o propósito do mundo, ou muitas outras coisas. É possível viver e não saber.
É melhor ter perguntas que não podem ser respondidas do que ter respostas que não podem ser questionadas”