Ontem assisti um filme chamado “Os agentes do destino” e ele me lembrou daquelas famosas perguntas – que você já deve ter se feito em algum momento – as clássicas “de onde viemos”, “porquê vivemos” e “para onde vamos”…
Essas são as grandes perguntas da humanidade, que não importa a época em que você vive, se perguntará a mesma coisa.
A vida é complexa demais para ser definida, ou respondida, e você começa a perceber que essa dúvida permanece e ela que traz beleza a vida.
Pois a mágica da vida está na experiência subjetiva de cada um.
Na capacidade que cada momento tem de ser irreplicável – e que torna cada instante tão único.
O que o livre-arbítrio nos proporciona
Achamos algumas respostas aqui, algumas provisórias ali, mas sempre permanecemos com algumas dúvidas.
Isso está atrelado a nossa natureza enquanto seres humanos.
A incerteza, esse lugar do não-saber, da dúvida.
É esse fato que nos permite nos mover, criar, ser diferente. Quando algo não está definido por completo, você vai construindo sua própria versão.
Imagine só, que ao nascer você já soubesse tudo o que iria fazer e qual é exatamente o sentido da sua vida.
Seria como se estivesse vendo um filme, e soubesse o que cada personagem iria fazer, sem espaço nenhum para liberdade.
Isso tornaria a vida sem graça, perderia toda sua mágica, que está justamente na capacidade de ser imprevisível, de se transformar e se revelar a cada instante.
Muitas vezes buscamos respostas para tudo, ter certezas que nunca vamos obter… esse é um caminho que foge daquilo que podemos controlar.
Mas nos iludimos com ele para tentar ordenar esse caos interno de dúvidas e incertezas…
As vezes achamos que não podemos conviver com as incertezas, mas a verdade é que as coisas que mais nos doem são aquelas que tinhamos certeza e que no final se provaram o contrário. Nós criamos uma ilusão da verdade, que a encontramos, e que temos ela em nossa posse.
A realidade é bem distante disso, pois quanto mais você conhece, mais entende que nada sabe. Você não conhece as verdades, apenas acha que sabe.
Por isso, podemos encontrar paz nas dúvidas, afinal é melhor conviver com elas e se permitir experimentar a vida nesse caminho do que ter respostas concretas que não podem ser questionadas.
Consciência e contraste
A nossa capacidade de pensar por nós mesmos, se dá pelo contraste de podermos escolher entre uma coisa ou outra.
Por exemplo, você sabe distinguir a luz porque conhece as sombras, você sabe que um comportamento é mau, porque conhece o bem.
É esse contraste que nos dá consciência e liberdade para ser – é a consciência que nos permite conhecer e explorar as opções disponíveis e não nos limitarmos a uma.
A nossa conduta de explorar e criar diante daquilo que não se consegue prever, esse é benefício.
Aquilo que tem sentido acontece na fronteira entre a ordem e o caos.
É só ao mergulhar na fronteira do desconhecido que podemos desenvolver nossa força única, na formação e construção da nossa identidade, que nos permite caminhar pela vida.
É o nascimento da fé, que nos permite seguir por caminhos diferentes, muitos que vão levar ao mesmo lugar no final (contanto que seja dentro da ideia do bem).
Se por exemplo, Deus se revelasse, as religiões acabariam e todos os caminhos disponíveis se limitaria a um, negando todo tipo de diversidade.
O que nos permite sermos “livres” é a nossa imperfeição, é a indefinição e a dúvida que nos instiga a explorar a vida de diversas formas, é onde podemos encontrar nosso potencial e nosso construir nosso sentido.
O contrário disso, seria a perfeição, como o professor Clóvis de Barros ilustra no seu livro “Em busca de nós mesmos”:
“Se minha aula não é perfeita, a aula perfeita seria dada por Deus. Se Deus garantisse a perfeição da minha aula, só haveria a aula de Deus e não haveria minha aula. Se Deus garantisse a perfeição do mundo, ele estaria sempre no nosso lugar, afinal somos imperfeitos.”
É esse pequeno detalhe que nos abre para a experiência, de buscar entender a nossa natureza, de experimentar, errar, aprender e desenvolver nosso próprio caminho.
Temos uma grande mania de sempre focar no destino, no topo da montanha, nas respostas finais…
Mas o que realmente nos atrai, nos desenvolve e forja nosso caráter, são as perguntas e a jornada durante o processo – nela é onde encontramos a felicidade duradoura – e não na sensação passageira da chegada ao destino, que no final, nem chega e as vezes nem era o que você imaginava.
Caos e ordem
A noção dessa consciência de si, de romper com o automático, e ir na direção da formação do caráter importa mais do que a ideia vaga pela busca da felicidade.
É assumir o risco de viver, construir e criar seu próprio caminho, desenvolver seu potencial que fará diferença.
Essa consciência tem que ser tomada para você, grande parte das pessoas hoje em dia não se preocupam mais, vivem de forma automática e deixam serem guiadas.
Ficamos com muito medo de explorar possibilidades, de seguir outros caminhos. Com medo de encontrar obstáculos ao longo dele.
Sem o caos não há ganho existencial. Não há mudança. São esses pequenos acontecimentos de caos que gera uma reconfiguração da vida.
Tem um conto chinês que diz mais ou menos assim:
“Um pai ao ser parabenizado pelo fato de o filho ter ganhado um cavalo, afirma: “pode ser bom, pode ser mau” No dia seguinte, o filho cai do cavalo e quebra a perna. Todos lamentam o ocorrido, ao que ele reitera “Pode ser bom, pode ser mau”.
Passa-se mais um dia, todos os jovens da região são convocados para ir a guerra menos seu filho, pois estava com a perna quebrada..”
O caos é o que introduz elementos de instabilidade na nossa experiência, por causa disso passamos a ver ele como algo ruim…
Mas ele também é gerador de experiências novas e que podem nos levar a desconstruir um sistema que pensávamos estar ordenado e estável, mas precisa de mudanças.
Nós só aprendemos a levantar e a caminhar, sermos mais resistentes, porque podemos cair. E essa é uma dura verdade, porque é ao frustrar nossos planos, nossas expectativas e obstáculos, que podemos acordar e reeducar a nós mesmos.
Afinal de contas, a realidade humana não se faz de estabilidade, e sim de provisoriedade e permanência, harmonia e barulho, ordem e caos.
Conhecimento como liberdade
A incapacidade do homem em controlar suas paixões é servidão – como diz Aristóteles e diversos filósofos – pois quem se deixa determinar por elas não é senhor de si mesmo, mas escravo da sorte.
O livre-arbítrio é um presente que se deve lutar por ele.
A sua liberdade começa quando toma consciência de si, quando não se deixa mais ser guiado por seus vícios, quando desenvolve em você a capacidade de precisar menos.
A cada conduta podemos ter alguma consciência. Essa possibilidade de pensar sobre nós mesmos, e educar nossas decisões é a condição para a nossa liberdade.
Quanto mais você conseguir ter consciência de si, mais perceberá o quanto a sua vida pode ser outra, ou seja, o conhecimento lhe oportuniza possibilidades de escolha, maiores oportunidades diante de uma decisão.
Afinal, decidimos com base em quem nós somos, enxergamos a realidade através de lentes que são frutos das nossas interações e interpretações do mundo.
Se podemos então nos desenvolver por meio das incertezas, essa é então nossa oportunidade de mergulhar nesse caminho, de experimentar e conhecer todo potencial que podemos ter.
Quanto mais nos conhecemos, e mais conhecimento acerca do mundo nós dispomos, maior será nossa capacidade decisória, porque maiores serão as possibilidades, logo também teremos um maior repertório e ordem mental para filtrar aquilo que não serve para nós ou nos leva a hábitos ruins.
Você tem a responsabilidade de assumir que precisa buscar realizar o sentido em potencial da sua vida, que é algo a ser descoberto no mundo, uma experiência a ser vivenciada e não teorizada – sem fórmulas prontas.
A liberdade não é a última palavra, ela é um lado da moeda que deve ser vivido com responsabilidade, você sempre decide o que se tornará – ou não – no momento seguinte.
Meditação da Semana
“Imagine que você está no seu leito de morte, e em volta dela está os fantasmas, representando:
- Seu potencial não alcançado
- Os fantasmas das ideias que você nunca colocou pra frente
- Os fantastasmas do talento que você não usou
E eles estão parados em volta da sua cama, com raiva, desapontados, chateados. Falando: nós viemos a você porque você podia nos trazer para a vida e agora nós temos que ir para o cemitério juntos. Então te pergunto hoje, quantos fantasmas vão estar ao redor da sua cama quando seu tempo chegar?”