Uma das coisas mais em comum hoje é você ter uma rede social.
Coisa que há pouco tempo, não era tão “normal” assim.
Hoje estamos usando e dependendo delas para várias áreas da nossa vida:
- Falar com amigos
- Trabalho
- Aprender novas coisas
- Entreter
- Acompanhar notícias
Surgiram diversas profissões em cima delas, e com isso diversos dilemas.
E creio que uma das principais dúvidas se baseia na questão se elas foram uma coisa boa ou ruim…
A realidade
Hoje quando temos o primeiro indício de tédio, a gente já tem automatizado o escape do celular.
Até mesmo em situações que você se sente desconfortável, como em um lugar onde não conhece ninguém, ou está achando a conversa um pouco desconfortável, o que fazemos? Pegamos o celular.
Quantas vezes já fez isso?
Não somos forçados a pensar, lidar com situações adversas, considerar nossas emoções e o que estamos fazendo com nosso tempo.
No primeiro instante que podemos ter nosso momento de divagação ou solitude, ou melhor, de estar com nós mesmos, e até mesmo considerar que nosso tempo tem sido bem administrado, na primeira oportunidade a gente vai lá e abre alguma rede social..
Os 2 grandes problemas
As redes sociais se tornaram nossa nova forma de interação social, e por trás delas há algoritmos que tendem a te colocar com alguém do seu interesse.
Essa aproximação dos pares, gera um conflito de grupo e uma separação enquanto humanidade, ou seja, o mesmo mecanismo que nos faz sobreviver, crescer, e prosperar (união, cooperação) está sendo negligenciado e nos deixando cada vez mais individuais.
Uma vida de aparências e comparação extrema
A grande questão é que somos seres sociais e um dos mecanismos que temos para evoluir e entender o que é bom ou ruim, certo ou errado, é a comparação.
Só que até pouco tempo, nossa comparação era limitada geograficamente.
A internet, principalmente através das redes, massificou todo esse processo, o que instiga as pessoas a viverem uma vida de aparências, pois agora a necessidade de “aprovação delas” é global e não mais apenas a seu meio.
Precisa estar bonito para postar, precisa estar vivendo uma vida “feliz”, precisa ter objetos de desejo para se sentir validado…
Esses dias li uma analogia da alegoria da caverna de Platão com as redes sociais de um psicólogo chamado Gabriel Domenico que resume bem essa ideia:
“Um desses padrões é a comparação, que podemos facilmente associar ao mito da caverna de Platão.
Este mito descreve prisioneiros acorrentados em uma caverna, observando sombras projetadas na parede e acreditando que aquilo é a realidade.
Nos dias de hoje, principalmente por causa das redes sociais, as pessoas não se comparam apenas com as mais próximas do seu convívio, mas com pessoas do mundo inteiro.
A comparação é inadequada porque cada pessoa tem uma vida única, com diferentes oportunidades e ambientes. Os contextos importam e podem levar a comparações extremamente injustas, resultando em sofrimento.
Para piorar, hoje as pessoas se comparam com fragmentos de vida meticulosamente escolhidos e compartilhados por outros nas redes sociais.
Isso é muito o mito da caverna… as pessoas observando esses fragmentos postados como se fossem a realidade, quando na verdade são apenas um pequeno recorte da vida de alguém.
É essencial olhar além da sombra, é necessário reconhecer que o que você vê nos stories do Instagram, por exemplo, não representa nem 1% da realidade da vida daquela pessoa.
Você não conhece as angústias, contradições e conflitos dessa pessoa, vê apenas o que ela quer que você veja. Você realmente acha que a vida dela é isso?
Sair da caverna significa ver a sombra, ou o fragmento, pelo que realmente é: apenas um recorte, entendendo que aquilo não representa a realidade. A partir disso, comece a se comparar de forma mais justa, ou seja, com você mesmo do passado.
É muito fácil, no piloto automático da vida, olhar para a sombra na caverna e pensar que aquilo é a realidade…”
O estímulo descontrolado
Toda essa comparação baseada nas aparências, gera ansiedade, estímulos infinitos diários e uma necessidade de imediatismo para um futuro, que na maioria das vezes nem condiz de verdade com quem você realmente é.
Você começa a acreditar que é necessário Ter para Ser, que precisa buscar ser perfeito.
Que precisa ler o livro que tal pessoa está lendo, porque assim vai alcançar o sucesso.
Que precisa fazer exatamente o que uma pessoa que você segue faz, porque esse é o único caminho.
E o que isso gera?
Erros atrás de erros. Daqueles com quais você não consegue aprender, porque está correndo atrás de uma ilusão.
E para lidar com a angústia de nunca alcançar, porque afinal tudo isso é uma ilusão, você começa a buscar prazeres rápidos, cria uma inimizade com o esforço, começa a se alimentar mal, a passar horas consumindo conteúdos curtos pensando que assim está aprendendo algo, porque ele gera uma sensação breve de alívio (recompensa).
E assim vai criando um comportamento apático para todo tipo de esforço ou hábito que te faria bem.
Porque a maioria das coisas boas levam tempo, exigem sacrifícios, exigem uma dose de desconforto.
E aqui você acaba se perdendo dentro de si e só se afasta cada vez mais de construir um futuro que te traria uma paz de espírito.
Seu cérebro vai se moldando e perpetuando circutarias dentro dele envolvido com que você está dando para ele.
- Quais estímulos que você está dando?
- Qual a forma de ver o mundo que você está ensinando a você mesmo?
Eduque seu sistema dopaminérgico, se não você vai correr atrás só de coisas rápidas.
Ajuste sua conduta
Passamos longos anos aprendendo através de histórias (mitos, alegorias..), do diálogo e livros.
Essas são as maneiras mais antigas de aprendizado, e vão continuar sendo.
Por isso busque consumir mais conteúdos longos, não se limite ao curto.
Se você quer aprender, não é em 60 segundos de um vídeo que vai te ensinar. Aprendizado exige tempo e esforço. Para se explicar bem um conceito, um professor gasta em média 30-40 minutos na sala de aula – e isso não é por acaso.
Um livro por exemplo é um acumulado de aprendizados de anos de experiências e pesquisas que uma pessoa teve e sintetizou ali, como você vai resumir todos esses anos em 30-60 segundos?
Essa é uma das ilusões que temos nos acostumado a acreditar…
Da mesma forma, não consigo te passar a ideia dessa newsletter em um conteúdo curto, não teria a mesma qualidade.
Por isso não se iluda que está aprendendo algo consumindo conteúdo curto.
Primeiro, aprendizado não acontece por hosmose, você lá passivamente recebendo ele.
Aprendizado tem que se ser ativo.
Quantos reels ou tik tok você se lembra que você viu nos ultimos 3 dias?
Nenhum conteúdo em geral vai ser produtivo ou educativo se você não fizer algo com aquela informação. Isso é só uma ilusão para ganhar sua atenção.
Por isso, pratique o que aprende, escreva, escute, reassista, releia.
Se você não estiver ativamente escrevendo o que você vê, no dia seguinte você dificilmente vai lembrar do que você viu, por mais relevante que acha que tenha sido.
As redes sociais, a internet como um todo, está lotada de ótimos conteúdos. Então a questão não é ela.
O que melhora ou piora uma rede social são os usuários, ou melhor sua conduta perante ao que você consome.
Assim como na alimentação. A comida em si não é má, dependerá da qualidade do seu consumo.
Agora se você só comer Fast Food, alimentos ultra-processados, seu corpo vai sentir.
Dá mesma forma é seu cérebro, ele precisa de bons alimentos.
Por isso cuide daquilo que você consome.
Como ajustei minha conduta e como você pode ajustar a sua
Há poucos anos atrás eu tinha bastante dificuldade de fazer qualquer atividade que precisava de um pequeno esforço ou até um desconforto inicial..
Como por exemplo ler um livro, ter uma boa alimentação.
Foi quando comecei a entender como funcionava nosso corpo – e é impressionante o tanto de coisa que não fazemos ideia que nos influencia.
Seu cérebro acostuma com tudo que você o estimula, se der apenas a famosa “cheap dopamine”, vai ser difícil se propor coisas que vão exigir esforço.
Quando entendi mais sobre a importância de ter cuidado com os comportamentos que você repete e passei a aplicar várias mudanças na minha vida e que você também pode aplicar dado seu contexto:
Retirar suas notificações
Uma das coisas que mais tira sua atenção são as notificações do seu celular, toda vez que você escuta ou recebe uma, você tem um pequeno pico de ansiedade.
Depois que removi as minhas, sinceramente, nunca tive tanta paz. Qualquer barulhinho no celular já tirava minha atenção.
No meu caso, hoje em dia não uso nem no whatsapp, mas costumo a checar ele pelo menos 3x ao dia, porque dado a minha rotina, se for realmente urgente, a pessoa vai ligar.
Escolha o que consome com critério
Quando você vai buscar uma vida mais saudável, você busca alimentos saudáveis em geral.
No que se diz ao nosso cérebro, é tão importante quanto ser criterioso com o que se consome de conteúdo.
Revise eventualmente aquilo que não faz mais sentido para você, e para onde você quer chegar. Coisas que não estão alinhadas nem com seu objetivo e nem com seus valores.
Tudo que você consome vai te programar em algum nível.
Coloque limites e busca por conteúdos longos
Estabelecer limites na sua vida é o que vai te garantir liberdade.
Defina um limite de consumo para lazer por dia para não se distrair. Evite ficar consumindo só conteúdos curtos, porque você se acostuma com tudo que você faz repetidamente. Seu cérebro ficará acostumado com um padrão de prazeres rápidos, e isso vai se arrastar por várias áreas na sua vida.
Quando você não define limites a alguns comportamentos, esses comportamentos começam a controlar.
A grande questão das redes e dos estímulos, é mais sobre sua postura diante deles. As redes sociais elas não tem natureza do “bom ou mal”
O que acontece é que nos damos uma “liberdade” (ilusória) demais quando se trata dessas coisas, deixamos nossos instintos tomarem conta e isso acaba nos aprisionando..
Pois as piores prisões são aquelas que te fazem pensar que a porta está aberta.
Meditação da Semana
“Não tenha vergonha de usar a mesma roupa, de não ter o telefone da moda, ou de ter um carro velho.
Vergonha é viver de aparência, tentando mostrar aos outros aquilo que você não é.”