Essa talvez seja uma daquelas cartas, que você não tenha tanta vontade de ler…
Mas é uma daquelas que podem te fazer ter uma nova visão sobre a vida.
O assunto pra muitos é algo que lembram de uma forma meio rancorosa dos tempos de escola ou faculdade, que é filosofia.
Pra falar a verdade, em meus tempos de escola também sentia assim, até entender de fato o significado e como é importante ter uma visão filosófica.
Aprendemos da maneira errada, uma visão institucional e histórica da filosofia, e que muitas vezes nem nos induzem a refletir sobre o que é dito, afinal grande parte do ensino “educacional” não tem preocupação com a formação moral, que é um dos grandes objetivos da filosofia.
Por isso precisamos resgatar o verdadeiro objetivo.
Produzir modos de vida cada vez melhores, pela reflexão e implicação prática na vida.
Filosofia enquanto a base
Não quero escrever algo massante, por isso não vou dar detalhes históricos por aqui, e sim dizer fundamentos que podem te ajudar no dia a dia.
Pra começar, assim como tudo, é importante entender as bases.
A filosofia é a busca pela sabedoria ou melhor o amor pela sabedoria. E quando vemos que está ligada a busca, já podemos entender que é um caminho que não tem conclusão, porque a partir do momento que você já sabe ou toma posse, não há mais nada para aprender ou buscar
Ela é o ponto de partida para entender a natureza humana pelo uso da razão, da inteligência. Entender o sentido da vida, de onde viemos, para onde vamos, porque nascemos…
Estudamos história no meio desse caminho não para viver no passado, mas sim aprender com ele.
Quando você lê um livro, você está aprendendo um conhecimento que já foi depurado e pesquisado, experienciado pelo autor.
O mundo não começou quando nascemos, podemos aprender com quem veio antes, ou seja, sua mente não precisa ter mais sua idade, quando você absorve aquilo, sua mente é muito mais velha.
Há muita coisa aprendida, conquistada com muito esforço e que levaram anos para serem entendidas, conhecimento que levaram anos para serem formulados e você pode ir lá e pegar “pronto”.
E esse é o princípio do filósofo, buscar a verdade aonde quer que ela esteja, inclusive nas religiões.
Infelizmente existe uma radicalização de ideias de cada grupo, de religiões, e pensamentos de tal forma que qualquer tentativa de aproximação fracassa desde do início.
É assim que vemos essas ideias corromperem gerações.
Esse é um dos perigos da nossa sociedade…
Vícios sendo ensinados como virtudes… e essa corrupção das melhores coisas, geram as piores.
E por falta de uma verdadeira educação faz com que muitos acreditem que aquela ilusão seja a verdade.
Porque a educação se encontra na Aletheia “tirar o véu” – termo grego para verdade/realidade. Onde a realidade é como é, e não como você gostaria que fosse.
Porém, pela falta de uma formação moral, a intolerância e arrogância crescem, e dá espaço a vaidade.
Este é um domínio extremamente perigoso, onde o valor não se encontra na realidade e sim na satisfação do ego e de uma pretensa superioridade moral.
“Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso, o universo de cada um se resume ao tamanho de seu saber”
Produzindo modos de vida
Uma das grandes chaves da filosofia é a produção de modos de vida.
Aristóteles por exemplo, vai nos mostrar que todos temos sentidos, e com isso paixões, vontades, inclinações…
Os animais portanto, tendem a ser determinados por isso, nós não necessariamente. Temos a capacidade de nos educar e controlar nossos impulsos.
E é isso que nos vai permitir desenvolver Virtudes ou Vícios, a depender do que você alimenta. E são neles onde está todo o mundo da ética.
Para os gregos, ética e moral era uma coisa só, não havia a ideia de ser levado pelas circunstâncias, ter uma ideia e agir de forma diferente.
A ética tratava-se de harmonizar o ser humano, dar uma direção em caminho do “bem”, de ser um parâmetro interior para ser refletido em nossa conduta fora.
E aqui está uma das primeiras grandes lições:
Apenas aprender, ou ter uma ideia “virtuosa” se você não a vive é insuficiente.
E é onde entra a vida moral, que é justamente viver aquilo que você acredita, colocar em ação (movimento)
Krishna, vai dizer que “O não movimento é o maior mal”
Por isso não há nada mais forte do que a presença de nossas convicções na vida. Tanto para ajudar a nos mover quanto para ajudar a superar as dificuldades que vão aparecer.
Afinal, se você busca crescimento, não deve reclamar quando aparecer um desafio. É através do conflito, desse processo desafiador, que a vida nos ensina a ser melhor, desde que possamos aprender com ele.
Por isso, quando falamos de uma paz consigo mesmo, paz interna, estamos falando de presença de convicção e não ausência de conflito.
Seguir esse caminho, não significa que seremos perfeitos. Mas é tendo firme nossas convicções que ficamos em paz com nós mesmos, sem depender da aprovação do outro, apenas da força de nossas convicções.
Elas são parâmetros para nos guiar em nossas decisões, para sempre que estivermos nos afastando, desacelerarmos, e corrigir a rota de volta ao centro.
“Volta ao paraíso todo aquele que reconhece a si mesmo no reflexo do poço e não teme mais a si mesmo”
Uma visão distorcida pelo tempo
Tendemos a achar que o filósofo é aquele que pensa, e não que atua.
Supervalorizamos o intelecto mesmo que esteja em desacordo com a realidade…
Não é porque Platão falou ou fulano falou que é verdade. Temos que aplicar o que dizem e ver se faz sentido para nós.
O ato filosófico é totalmente o contrário daquele esteriótipo de pegar uma vestimenta leve e ir morar sozinho nas montanhas.
Devemos experimentar a vida, mergulhar nela, estar consciente em cada área e momento. Só assim podemos aprender e verificar se o que pensamos condiz com o que é verdade.
Você só pode testar sua conduta quando está com outras pessoas.
Só pode testar uma ideia quando a coloca em prática. Tudo na teoria funciona, mas na prática é diferente.
Como saberá se é paciente, se não vive situações que estimulam o estresse o tempo todo?
Precisamos nos relacionar com o mundo para ver nossos defeitos. O próprio ambiente pode nos ensinar.
Com isso, temos outra grande lição…
Só há nobreza e moralidade no autocontrole, quando há necessidade de seu exercício.
Tirar de dentro aquilo que nos é próprio
Ao longo dos anos, também perdemos o verdadeiro significado de educação.
Educação não é ensinar um ofício, não é apenas falada, é vivida. Por isso a grande força da educação é o exemplo.
Você educa pelo exemplo. E se assim o é, primeiro deve educar-se a si mesmo. Tirar o potencial que tens de dentro, e tomar consciência.
A educação é a maior ferramenta formativa de um ser humano. Ela segue a ideia do bem, ou seja, de unidade. Harmonizar dentro para refletir fora.
Educação nos permite formar caráter, ao educar nossos vícios e buscar estabelecer bons hábitos.
É a base do autoconhecimento.
É através dela que podemos perceber nossas falhas, repensar nossas crenças, perceber o que é ilusório e passageiro e o que não é, aquilo que permanece e não se perde no tempo e no espaço.
Afinal vemos o mundo pela forma como o interpretamos internamente, ou seja, pelo nosso olhar para as coisas. Enxergamos o mundo a medida que nós somos, por isso quando mais entendemos a nós mesmos, nossas percepções mudam.
Quando era pequeno, sempre diziam que ao ler o livro “O pequeno príncipe” a cada ano, você entenderia de uma forma diferente.
E é justamente por causa disso, não é porque o livro mudou, é porque você mudou e portanto enxerga a vida de uma forma diferente.
Ter consciência disso, é permitir estar atento e presente ao que pensamentos. É pelo juízo de valor que damos a eles, que podemos viver de forma diferente, tanto para melhor quanto para pior.
Essa é a prática da consciência, retomar o controle de si, ser o senhor de si mesmo.
Esse é o ato filosófico que permite mudar seu olhar e direcionar sua atenção para o que verdadeiramente importa, para saber filtrar e navegar nesse mundo de distrações, para estabelecer prioridades e não deixar a vida passar em um piscar de olhos.
Porque se você não parar para entender a si mesmo, estabelecer aquilo que importa, do que adiantará todo esforço?
Do que adianta ganhar o mundo inteiro, mas perder sua alma?
Meditação da Semana
Não há nobreza em ser superior ao próximo, a nobreza está em ser superior ao que você já foi.