Hoje essa carta é um pouquinho diferente, um assunto que para muitos é delicado, para outros indiferente, e para alguns libertador.
Particulamente, nunca tinha pensado muito sobre até alguns meses atrás. Sempre fui da turma dos “indiferentes”. Há quem sofra por antecipação, e até prefere mantê-la na categoria “inominável”.
Espero que ao final dessa carta, sua relação com ela possa melhorar um pouco, e que possa te trazer um pouco mais de serenidade ao lidar com as situações que a vida te proporciona, porque dependendo da forma que você a vê, ela pode te ensinar muitas coisas.
Se você ainda não sabe do que estou falando, é sobre nossa finitude, a única certeza que temos na vida. A que ela acaba, a morte está presente para todos nós.
Spoiler da vida: você morre no final
Todo mundo sabe que não somos imortais, mas que somos frágeis, envelhecemos, enrugamos, e nosso corpo se despede da vida ao longo do tempo.
Mas vivemos como se fossemos imortais, gestores do tempo, deuses de si próprios. Por esse motivo adiamos família, procuramos o futuro e abrimos mão do presente, por que no fundo não acreditamos que um dia partiremos.
Deixamos de fazer as pazes com nossos entes queridos, por alguma coisa besta que nem lembramos mais, porque acreditamos que ele sempre estará lá.
E é nesse ponto que estamos errados.
Ignorarmos algo não significa que ele deixa de existir, não muda o fato que ele existe. O mundo tem que ser enfrentado pela realidade e não pela ilusão. Só conseguimos ordenar o caos, quando reconhecemos ele, e enfrentamos a vida em toda sua integridade.
E os estoicos, tem uma grande lição para nos ensinar.
Memento Mori
Lembre-se que você vai morrer.
Essa foi uma das grandes lições estoicas – que era uma escola de filosofia grega e romana que tinha uma postura de serenidade perante a realidade da natureza.
A verdade é que, quando se aprende a morrer, aprende-se a viver. Porque é assim que você começa a ver o mundo de forma diferente.
É essa lição que pode nos inspirar a sair da inércia, que clarifica e nos mostra a preciosidade da vida.
A dor nasce e morre, a frustração nasce e morre, assim como nós. Faz parte do ciclo da natureza.
Entender que temos um final nessa vida, nos permite viver o momento presente em cada ato. Esse é nosso dever, porque ele é tudo o que há para viver.
“Sobre o homem:
→ Pensam sobre ao contrário, tem pressa de crescer e depois suspiram pela infância perdida.
→ Perdem a saúde para ter dinheiro e depois dinheiro para ter saúde.
→ Pensam ansiosamente no futuro que descuidam do presente e assim, não vivem nem o presente nem o futuro
→ Vivem como se não fossem morrer nunca e morrem como se não tivessem vivido.”
Arrependimentos
Quem passa o tempo em luta constante contra o envelhecimento sempre será infeliz, porque envelhecer é inexorável.
A questão é aceitar o que somos e gostar. Você pode estar no tempo de seus 30, alguém já esteve nessa fase e agora está na fase do 70. Precisamos descobrir o que existe de bom e verdadeiro e belo em cada fase da nossa vida.
Quem encontra um sentido para a vida não deseja voltar atrás. Deseja ir em frente.
Quando você se ajusta na ordem cósmica, você vive o presente.
Aquele instante vale por ele mesmo, existe uma reconciliação com a realidade que você não se pega mais olhando para o passado.
E também não se preocupa em pensar no que vai acontecer, porque o real basta.
Triste é chegar no fim da vida, olhar para trás e perceber que desperdiçamos nosso precioso tempo e nossa preciosa energia com pessoas e projetos que não valem a pena. Triste é arrepender-se por não ter aproveitado, por não ter arriscado.
Quando o real é espetacular, não tem passado nem futuro.
O medo nos fecha para o mundo, nos fecha para os outros e, em grande medida, nos impede de estarmos aptos a encontrar o mundo em experiências alegres. Enfrentar o medo é a condição para uma vida mais satisfatória.
A morte é inevitável. O caminho que trilharemos até lá, nem tanto.
Por isso se mova para viver. Por isso a filosofia.
Aprendemos a viver experienciando a vida, e não criando ideias de como fazer. A filosofia tem que ser vivida na prática, a busca da ideia tem que refletir na sua vida e no seu comportamento para fazer sentido.
Como diz Paulo Henrique Teston:
“Todo inimigo da vida é o que te tira do momento presente. Quem vive, vive no agora
Quem existe, vive na angústia de um futuro.
Estamos vivos:
- Os melhores livros ainda não foram escritos
- Os melhores competidores ainda não foram forjados
- A melhor canção não foi escrita
O mundo é um presente para quem vive e um fardo para quem existe
Devemos trabalhar para escrever na história”
Entender nossa finitude é o que nos permite nos mover para experienciar a vida em toda sua plenitude.
A imortalidade da alma
Recentemente vi um podcast com a professora Lucia Helena Galvão. Onde ela mencionava uma visão de Sócrates sobre a vida:
“Cada coisa se destrói pelo mal que lhe é próprio:
O mal do ferro é a ferrugem, se ele tiver que se destruir será por aí
O mal de um alimento é o apodrecimento, se ele tiver que se destruir será por aí
O mal da alma são os vícios, mas estes não destroem a alma.
Porquê você comete todos os erros e não deixa de ter alma por causa disso.
Se ela não se destrói pelo que é próprio, ela não vai se destruir por mais nada.”
São argumentos como esse que vai te convencendo que podemos morrer, mas algo permanece. São as crenças bem embasadas que te trazem uma serenidade para o momento vivido.
É claro que podemos começar a discutir pela razão, lógica, filosofia diversos assuntos, mas a grande verdade é que a veracidade exata nunca teremos, portanto precisamos ir para a parte prática dessa discussão.
Sabemos portanto de nossa finitude e vemos que a a morte pode nos fazer viver e sair da inércia para poder experienciá-la e valer por cada instante.
Você morre uma vez, mas vive todos os dias.
E qual é nosso papel diante de tudo ?
Ora, se o papel da macieira é dar maçã, o do vento é ventar. O fruto do ser humano é a bondade e a justiça.
Portanto, o fruto da vida é o exercício do bem todos os dias.
E se você acredita em uma força motriz, algo maior que si mesmo, um arquiteto de todo o caos que rege o universo. Entende que esse bem faz parte dele, seja o nome que você dê para ele.
O bem ele não é arbitrário para nós, mas ele é a condição para a vida boa, o que nos aproxima do que é divino. Você ser justo e exercer o bem, é você se adequar a natureza D’ele. Você sente lá no fundo que está alinhado, que está em harmonia com o cosmos e com a vida boa.
É o exercício da virtude em vida, que te leva mais próximo do que é divino.
E só podemos ter essa serenidade quando fazemos as pazes com nossa natureza, ou seja, nossa finitude.
Portanto, deixo uma meditação que carrego comigo sempre sobre isso. Não é apenas para essa semana, mas para sua vida, que acontece todos os dias.
Meditação da semana
“Passarei por esse caminho uma vez só, portanto, se há qualquer bem ou gesto de bondade que eu possa fazer em benefício do ser humano, que eu faça já, que eu não adie ou negligencie, pois por aqui jamais passarei”